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「Estudamos Português -ボクたちのポルトガル語-」よりInês Carvalho Matos "A Escola de Sagres e os Descobrimentos"

2019.06.09 13:11

この度、ポルトガルで日葡交流史について研究されている Inês Carvalho Matos氏に特別寄稿をいただき、弊団体が発行する「Estudamos Português -ボクたちのポルトガル語-」に記事を掲載させていただきました。本誌では紙幅の都合上、また「ポルトガル語を知らない学生の皆さまにポルトガル語の魅力を伝える」という目的からポルトガル語でいただいた原稿を掲載いたしません。


学習のために参考にもなるということもあり、この度Inês Carvalho Matos氏の原稿をネット限定で一足お先に公開いたしますので、ご覧ください。


A Escola de Sagres e os Descobrimentos

 Inês Carvalho Matos


   Você gosta de História de Portugal? Quem visita Portugal geralmente fica com a ideia que os portugueses dão muito valor à sua história. Existem realmente muitos monumentos sobre história de Portugal e portugueses do passado que fizeram muitas coisas importantes. Mas também há alguns mitos, coisas que não foram verdade mas que as pessoas pensam que aconteceram mesmo. É habitual acreditar numa estória bonita, cativante, mesmo quando não sabemos certamente se é verdadeira, não é? Não faz mal, neste artigo vou falar-lhe da “Escola de Sagres”, do lugar da vila de Sagres e também Vila do Bispo, e da história de Portugal que é verdadeira. Espero que goste de ler e fique ainda mais interessado pela história de Portugal!


   No sul do país existe uma região que se chama “Algarve”. O nome dessa região é de origem árabe. Os povos islâmicos entraram na Península Ibérica a partir do Norte de África e desenvolveram muito toda a Península. Naquela época, os povos islâmicos estavam mais avançados, com conhecimentos de ciência que a Europa ainda não tinha. Depois, aconteceu a “Reconquista”. Os reinos dos cristãos apoiaram-se uns aos outros para fazer guerra àqueles que chamavam de “infiéis”. Assim, o “Algarve” passou a fazer parte de Portugal. Mas, para os portugueses daquela época, e durante muito tempo, o “Algarve” ainda era visto como um reino separado. Nos títulos dos reis de Portugal usou-se durante muito tempo a expressão “Rei de Portugal e dos Algarves”, como se “os Algarves” fosse uma coisa separada de Portugal.


↓リスボンにある北部と南部をつなぐ「4月25日橋」

   Quando alguém viaja de norte para sul, mesmo hoje em dia, pode ver como a paisagem muda. Portugal é um país pequeno, mas existem diferenças muito grandes na geografia. O Algarve tem um aspeto completamente diferente do Minho! Ao longo da costa do Alentejo, no lado ocidental, e até chegar ao Algarve, a paisagem à beira do mar, tem uma imagem inconfundível. É diferente de tudo o resto em Portugal, e mesmo no mundo. O mar é muito profundo, as rochas são muito densas e rijas. A costa cria falésias e penhascos, mesmo à beira das ondas. O vento pode ser forte, e traz gotas de mar salgado até ao rosto das pessoas que se encontram na costa. As praias têm areia de cor amarelo claro, muito fina, quase sem nenhuma pedra ou concha ou algas. Não é habitual haver peixes venenosos nem tubarões, nem nenhum outro perigo, e o mar do oceano atlântico é frio e tem muito peixe. Nessa zona do país, que corresponde ao Oeste do Alentejo e Oeste do Algarve, sempre existiram povoados de pescadores.


   Continuando a nossa viagem para sul, mesmo no fim de Portugal, fica a Ponta de Sagres. Isto é o ponto que faz uma esquina no mapa de Portugal. Esse cabo é tão lindo que já se inventaram muitas histórias fantasiosas sobre ele. É comum as pessoas ficarem com uma grande imaginação quando vêm lugares que lhes causam admiração, não é? Uma das coisas que se diz acerca de Sagres é que existiu lá uma escola de navegação, e que essa escola de navegação foi o local onde estudaram os navegadores portugueses. Mas, para dizer a verdade, isso não aconteceu assim e nunca houve uma escola de navegação em Sagres. Espero que não fiquem desiludidos, desculpem.



サグレスの岬とサグレスのビール。ポルトガルの2大ビールメーカーのひとつサグレスはこの地名から名前を取っている。

A “Escola de Sagres” é um dos mitos mais fortes dentro do tema da História de Portugal. Os Descobrimentos foram um período da história mundial no qual os portugueses mais se destacaram. Pode até dizer-se que se não fossem os portugueses daquela época o nosso mundo teria sido muito diferente. “Descobrimentos” também é uma coisa que provoca nos portugueses um grande orgulho, às vezes até demais (penso eu, que sou portuguesa). Peço um favor, procurem imaginar o seguinte: um país pequeno, com população em pequena quantidade, e nesse país produzem barcos como nunca tinham existido, e mapas como nunca tinham existido, e algumas pessoas parece que de repente conhecem todas as rotas de navegação do planeta, e vão a todas as partes do mundo. É difícil de imaginar isso hoje em dia, quanto mais no século 15! Mas, a verdadeira história é muito mais interessante, e é bom aprender. Com efeito, os portugueses não se tornaram “Descobridores” de repente, e também não foram a uma escola aprender como fazer isso. A ideia da “Escola de Sagres” foi inventada para explicar como é que os Descobrimentos aconteceram, porque é mais fácil imaginar que as pessoas iam à escola e aprendiam tudo ali.

Mas, no Portugal do século 15, já havia muitas informações sobre o resto do mundo. Os árabes tinham deixado aqui alguns conhecimentos, e os judeus que viviam em Portugal também sabiam muitas coisas. Através do comércio internacional e de outros portos do Mar Mediterrâneo, os comerciantes ouviam histórias do Oriente. As pessoas que sabiam falar várias línguas, e especialmente árabe, já sabiam que havia uma rota terrestre para Este. O que de desenvolveu como algo novo em Portugal foi a ideia de procurar um caminho para chegar ao Oriente através do mar. Não é assim tão estranho, pois não? Se pensarem bem, o mar é aquilo que os portugueses têm mesmo à sua frente, é natural que tentassem viajar por ali.

Em vez de uma “Escola de Sagres”, que nunca existiu, o que de desenvolveu em Portugal foi uma rede de informação e de troca de ideias muito vasta e muito bem formada. Algumas das pessoas dessa rede estavam sempre em viagem, outras estavam basicamente sempre paradas nos portos e nos mercados; algumas sabiam muitas línguas, e outras eram muito boas com matemática e geografia. Em Lisboa sobretudo, que era onde estava o Castelo, o Rei e a Corte, estavam todos muito atarefados a juntar essa informação toda. Isso demorou várias décadas mas finalmente chegou a um momento em que já era possível, com uma certa dose de coragem, ir para o Oceano e seguir viagem.


ユーラシア大陸の最果てともいえるサン・ヴィセンテ岬の灯台

   Os portugueses não precisaram de uma “Escola de Sagres”, mas Sagres não é um lugar sem importância. Na verdade, Sagres fica na ponta de Portugal, e por isso marca o fim do acesso ao Mediterrâneo e o começo do Atlântico. Sagres é um lugar com simbologia. Aquilo que Sagres simboliza é o fim do mundo que já se conhece e o começo do mundo que se quer descobrir.


   Com o passar dos anos, e o esquecimento da história real, muitos portugueses acreditavam mesmo que tinha existido uma “Escola de Sagres” e por isso a vila que fica mais próxima, e que se chama Vila do Bispo, sempre teve um grande orgulho em estar relacionada com os Descobrimentos. Já no século 20, quando surgiu a oportunidade de criar uma geminação entre Vila do Bispo e uma cidade do Japão, eles escolheram Nishi-no-Omote, em Tanegashima. Tanegashima foi o primeiro lugar do Japão onde os Portugueses chegaram, em 1543, por isso parecia fazer sentido que fosse geminada com Sagres.


   Ainda hoje, em Vila do Bispo, podem observar uma bela praça, que tem o nome “Praça de Tanegashima”. Se tiverem oportunidade, por favor visitem. 


ヴィラ・ドゥ・ビシュポの村に存在する種子島広場(“Praça de Tanegashima”)。